Quando eu
tinha 23 anos e celebrava a conclusão da minha primeira pós graduação em
Análise de Sistemas no Mackenzie, ao mesmo tempo em que a empresa onde eu
trabalhava me acenava com a perspectiva da terceira promoção de uma carreira
com potencial bastante promissor na área de Tecnologia de Sistemas de
Informação, eu acreditava cegamente que sabia de tudo sobre a vida. Bem, tudo
não, mas pelo menos 80% de tudo o que eu deveria saber.
Hoje, perto
de completar 50 anos de vida e sendo bastante otimista, me sinto até petulante
em afirmar que devo ter adquirido uns 2% de tudo o que deveria saber na minha
vida. Você pode não só achar estranho esta afirmação, mas até mesmo criar uma
imagem negativa de mim, como alguém que parou no tempo e não fez mais nada na
vida. Pelo contrário. Nestes 27 anos, desenhei, escrevi e implementei vários
sistemas de informática, escrevi e
publiquei três livros, organizei competições de planos de negócios, competições
internacionais de inovação corporativa e montei dois MBAs e dois Centros de
Empreendedorismo. Ganhei prêmios de educação, de inovação, de planos de
negócios, de fotografia e de sistemas de automação. Também treinei mais de
1.000 pessoas e influenciei as decisões de carreira de pelo menos 15 ex-alunos
que se tornaram empreendedores por minha causa. Já tive carreiras bem sucedidas
em duas multinacionais americanas, mudei da área de Informática para a área de
Administração e tive dois negócios próprios.
Neste
período eu fiz mais duas pós graduações, um mestrado e um doutorado. Me casei e
tive 3 filhos, construí uma casa, morei no interior, aprendi mais duas línguas,
morei nos Estados Unidos, conheci mais de 20 países, salvei a vida de um
motociclista acidentado e me tornei faixa preta de caratê. Já escapei de três
assaltos e enfrentei um assaltante frente a frente. Conheci todo o litoral
brasileiro do Ceará ao Rio Grande do Sul. Construí sólidas amizades com
missionários, gays, pescadores, lavradores e artistas. Já fui voluntário em
brigadas de segurança, tive que vender bens pessoais para viver e já apanhei
para proteger amigos. Fui seguidor do budismo tibetano e fiz muito camping
selvagem. Já experimentei drogas e fugi de restaurante sem pagar a conta. Já
vivi a experiência de quebrar um braço e já passei por duas cirurgias. Já me
perdi na floresta, tive carro quebrado no meio do nada e li mais de 200 livros.
Enfim, já
passei por muita coisa nesta vida. Então porque considero que sei tão pouco
sobre a vida?
Acho que
quanto mais eu conheço sobre o mundo, mais eu me dou conta do quanto este mundo
é complexo, grande e rico. Por mais intensa que tenha sido minha vida, na
verdade, devo humildemente admitir que eu nem sequer cheguei perto de arranhar
a árvore do conhecimento humano e que há muita coisa ainda para viver e
aprender.
Quando
somos jovens e inexperientes acreditamos que o nosso conhecimento do mundo à
nossa volta corresponde a toda a realidade que precisamos controlar e dominar.
Nosso escopo é limitado, mas não sabemos disso e é por isso que,
arrogantemente, julgamos estarmos preparados para tudo, para a vida. Na medida
em que vamos caminhando pela estrada da vida é que percebemos o quanto ela é
longa e cheia de ramificações e estas descobertas vão nos dando uma percepção
mais clara do quanto a realidade é mais ampla do que imaginávamos antes. A
humilde constatação de nossa pequenez é uma manifestação da sabedoria que fez o
filósofo grego Sócrates proferir a frase que encabeça este texto. E adquirir
sabedoria é que precisamos ter como alvo em nossas vidas. E o que é a
sabedoria? Na minha visão é um conceito que só pode ser entendido quando
entendemos sua estrutura completa, a qual explico nas rápidas palavras a
seguir:
O primeiro
nível é o do dado. Na década de 80, os computadores serviam basicamente para
processar dados, a unidade mais básica da informação. Um número com 98302103 é
um dado, assim como Al. Dos Gerânios, nr. 458. Um dado sozinho não significa
absolutamente nada se não estiver contextualizado. Esta contextualização vem
através do segundo nível que é a informação.
A
informação é um dado com algum significado. Assim, 98302103 é o número de um
telefone celular e Al dos Gerânios, nr. 458 é um endereço. Na década de 90, os
computadores evoluíram para não apenas processar dados, mas gerar informações a
partir deles. Com base na Tecnologia da Informação foi possível tomar decisões
melhores e chegar a resultados com muito mais rapidez. Com o tempo, apenas
manter e produzir a informação deixou de ser suficiente. Foi o advento da
Gestão do Conhecimento, (o terceiro nível) na década de 2000 que a humanidade
subiu mais um nível.
Conhecimento
então, nada mais é que uma informação contextualizada em uma determinada
situação. Desta forma, o número do celular é de uma aluna minha muito bonita e
o endereço é de onde ela mora. O conhecimento é um nível sofisticado de
informação porque apela para a conexão de informações diferentes para serem
usadas para determinados propósitos. A capacidade cognitiva de cada pessoa
ajuda a tirar maior ou menor proveito deste conhecimento, pois a mesma
informação pode ter significados diferentes para cada pessoa. É neste momento que
a variedade de vivências que passamos pela vida faz toda a diferença, porque
quanto mais experiências, mais interpretações diferentes podemos ter sobre a
informação e, consequentemente, gerar muito mais conhecimento relevante.
O último
nível é justamente o da sabedoria e envolve o uso que damos ao conhecimento que
detemos. É a sabedoria que me diz para não convidar a minha aluna para sair. Não
existe ainda tecnologia para trabalhar a sabedoria. Esta é ainda uma qualidade
essencialmente humana. Pessoas sábias sabem usar da melhor forma o conhecimento
que detém e não só tomam melhores decisões, mas compreendem com mais
consciência a realidade em que vivem. As pessoas não devem almejar conhecer
tudo, mas buscar este entendimento pleno da realidade, a sabedoria.
Assim, tudo
o que sabemos, sentimos, pensamos, concluímos e percebemos não passa de um
ponto de vista, originado única e exclusivamente pela nossa capacidade de
interpretar e contextualizar cada informação ao contexto de nossas vivências e
conhecimentos pré-adquiridos. Esta mesma realidade que percebemos de uma
determinada forma, pode e certamente será percebida de forma muito diferente
por outras pessoas que viveram experiências diferentes de nós e adquiriram
conhecimentos distintos.
É com a
busca constante da sabedoria que compreenderemos as diferentes realidades
possíveis e que nos ajudará a ponderar nossas ações e decisões em direção a um
caminho pautado pelo equilíbrio e bom senso. Ao refinar nossa percepção da
realidade sob estes novos paradigmas aprenderemos a conviver melhor com as
pessoas, ter um melhor entendimento do sentido da vida e ter uma vida mais
feliz e plena.