Desde 2012 venho compondo uma equipe de pesquisadores que
ajudam a Endeavor a desenvolver estudos
em educação para o empreendedorismo, com o objetivo de entender melhor como
o Ensino Superior do país está tratando a formação das novas gerações de
empreendedores. Um dos resultados deste estudo acaba de ser publicado na versão
impressa da PEGN. Diante da repercussão da matéria, resolvi tomar meu
espaço deste mês no site da revista para detalhar algumas das informações que
aparecem superficialmente na reportagem de Fabiana Pires e Robson Vitorino.
Em primeiro lugar, já é fato inequívoco que as Universidades
brasileiras acordaram para o movimento empreendedor, atendendo uma gradual
porém persistente mudança cultural que vem ocorrendo nos últimos anos na qual
os jovens percebem que a carreira empreendedora pode ser tão atrativa quanto a
carreira em empresas (sejam privadas ou públicas), pois representa o sonho da
independência e do crescimento sem limites, mas acima de tudo, a possibilidade
de ser o protagonista em mudanças de alto impacto no mundo.
O crescimento de ofertas de disciplinas de empreendedorismo
é o principal sinal desta mudança. Embora este crescimento esteja ainda muito
concentrado nos cursos de Administração e Engenharias, é um avanço
significativo. Trata-se do primeiro e talvez mais fácil passo para adequar o
ensino superior às necessidades emergentes dos jovens sonhadores, mas ainda
muito longe do que se pode – e se deve – fazer para efetivamente gerar novos
empreendedores.
Como diz a Profa. Janet Strimaitis da Babson College, citada
na reportagem, ‘Ensinar empreendedorismo é muito diferente de ensinar as
disciplinas tradicionais’. Além de ser um tema recente na academia, com poucos
conceitos e teorias efetivos, a atividade empreendedora é muito mais centrada
no ‘fazer’ do que no ‘saber’, forçando o professor a buscar outros recursos
para compensar suas aulas expositivas tradicionais. Estudos de caso, palestras
com empreendedores, simulações de práticas empreendedoras e mentoria são
algumas destas práticas, além de outras, mais inovadoras, como as desenvolvidas
pela Kaos Pilot e a Team Akademy mencionados na reportagem, mas são poucos os
professores brasileiros que as conhecem ou praticam. Algumas iniciativas
chegaram ao Brasil, como a Clinton
Center for Teaching and Learning, que procura trazer esta formação
complementar aos professores de empreendedorismo.
Este descompasso entre a academia e a prática empreendedora
é observado pelos alunos e se tornou uma das principais críticas dos jovens
universitários, respaldando a imagem indelével do estudante que abandona os
estudos para montar seu próprio negócio. Algumas universidades promovem
iniciativas para trazer um pouco do mundo real do empreendedor para a formação
do aluno. Em um estudo complementar a este, publicado
pelo Sebrae-SP, verifiquei que algumas destas atividades são competições de
negócios e eventos diversos, como palestras e seminários.
Estas iniciativas são comuns entre as melhores escolas de
empreendedorismo americanas, conforme ranking da Entrepreneur.com.
Embora possam servir como referência, elas ainda praticam modelos educacionais
fortemente pautados em ensino de negócios, mas estão dando os primeiros passos
para romper com os padrões acadêmicos para abordar a criatividade, a
improvisação, o risco, o aprendizado pelo erro, as tentativas e
experimentações, como competências empreendedoras a serem desenvolvidas no
ambiente acadêmico. O Professor Ghobril, também mencionado na reportagem,
procura trazer esta abordagem para o Mackenzie, ensinando a importância de
‘quebrar a cara’.
Na minha visão de educação empreendedora, parte manifestada
no documento
Brasil + Empreendedor, desenvolvido em co-criação por um grupo de
entusiastas e especialistas em empreendedorismo e que está sendo entregue às
principais lideranças do país, deve-se levar o ensino de empreendedorismo para
além da sala de aula, promovendo a interação entre vários cursos e disciplinas,
sobretudo com os núcleos de inovação das Universidades.
Estando claro o desafio dos gestores das instituições de
ensino superior de dar prosseguimento a este processo de mudança, esperamos
que, além de simplesmente oferecer uma disciplina de empreendedorismo, eles
tenham a coragem de reinventar a tradicional visão de formação de profissionais
para o mercado de trabalho que perdura no país desde a década de 70. A nova
economia não está mais lastreada em grandes empresas, mas em pequenas, ágeis,
dinâmicas, sem amarras e de alto potencial de crescimento.
Com meus programas de formação de professores de
empreendedorismo, procuro fazer a minha parte, mas todos, professores,
gestores, alunos, empreendedores, governo, tem a mesma responsabilidade de
tornar a educação empreendedora a célula-base da composição do ecossistema
empreendedor.