quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Educação Empreendedora no Brasil


Desde 2012 venho compondo uma equipe de pesquisadores que ajudam a Endeavor a desenvolver estudos em educação para o empreendedorismo, com o objetivo de entender melhor como o Ensino Superior do país está tratando a formação das novas gerações de empreendedores. Um dos resultados deste estudo acaba de ser publicado na versão impressa da PEGN. Diante da repercussão da matéria, resolvi tomar meu espaço deste mês no site da revista para detalhar algumas das informações que aparecem superficialmente na reportagem de Fabiana Pires e Robson Vitorino.

Em primeiro lugar, já é fato inequívoco que as Universidades brasileiras acordaram para o movimento empreendedor, atendendo uma gradual porém persistente mudança cultural que vem ocorrendo nos últimos anos na qual os jovens percebem que a carreira empreendedora pode ser tão atrativa quanto a carreira em empresas (sejam privadas ou públicas), pois representa o sonho da independência e do crescimento sem limites, mas acima de tudo, a possibilidade de ser o protagonista em mudanças de alto impacto no mundo.

O crescimento de ofertas de disciplinas de empreendedorismo é o principal sinal desta mudança. Embora este crescimento esteja ainda muito concentrado nos cursos de Administração e Engenharias, é um avanço significativo. Trata-se do primeiro e talvez mais fácil passo para adequar o ensino superior às necessidades emergentes dos jovens sonhadores, mas ainda muito longe do que se pode – e se deve – fazer para efetivamente gerar novos empreendedores.

Como diz a Profa. Janet Strimaitis da Babson College, citada na reportagem, ‘Ensinar empreendedorismo é muito diferente de ensinar as disciplinas tradicionais’. Além de ser um tema recente na academia, com poucos conceitos e teorias efetivos, a atividade empreendedora é muito mais centrada no ‘fazer’ do que no ‘saber’, forçando o professor a buscar outros recursos para compensar suas aulas expositivas tradicionais. Estudos de caso, palestras com empreendedores, simulações de práticas empreendedoras e mentoria são algumas destas práticas, além de outras, mais inovadoras, como as desenvolvidas pela Kaos Pilot e a Team Akademy mencionados na reportagem, mas são poucos os professores brasileiros que as conhecem ou praticam. Algumas iniciativas chegaram ao Brasil, como a Clinton Center for Teaching and Learning, que procura trazer esta formação complementar aos professores de empreendedorismo.

Este descompasso entre a academia e a prática empreendedora é observado pelos alunos e se tornou uma das principais críticas dos jovens universitários, respaldando a imagem indelével do estudante que abandona os estudos para montar seu próprio negócio. Algumas universidades promovem iniciativas para trazer um pouco do mundo real do empreendedor para a formação do aluno. Em um estudo complementar a este, publicado pelo Sebrae-SP, verifiquei que algumas destas atividades são competições de negócios e eventos diversos, como palestras e seminários.

Estas iniciativas são comuns entre as melhores escolas de empreendedorismo americanas, conforme ranking da Entrepreneur.com. Embora possam servir como referência, elas ainda praticam modelos educacionais fortemente pautados em ensino de negócios, mas estão dando os primeiros passos para romper com os padrões acadêmicos para abordar a criatividade, a improvisação, o risco, o aprendizado pelo erro, as tentativas e experimentações, como competências empreendedoras a serem desenvolvidas no ambiente acadêmico. O Professor Ghobril, também mencionado na reportagem, procura trazer esta abordagem para o Mackenzie, ensinando a importância de ‘quebrar a cara’.

Na minha visão de educação empreendedora, parte manifestada no documento Brasil + Empreendedor, desenvolvido em co-criação por um grupo de entusiastas e especialistas em empreendedorismo e que está sendo entregue às principais lideranças do país, deve-se levar o ensino de empreendedorismo para além da sala de aula, promovendo a interação entre vários cursos e disciplinas, sobretudo com os núcleos de inovação das Universidades.

Estando claro o desafio dos gestores das instituições de ensino superior de dar prosseguimento a este processo de mudança, esperamos que, além de simplesmente oferecer uma disciplina de empreendedorismo, eles tenham a coragem de reinventar a tradicional visão de formação de profissionais para o mercado de trabalho que perdura no país desde a década de 70. A nova economia não está mais lastreada em grandes empresas, mas em pequenas, ágeis, dinâmicas, sem amarras e de alto potencial de crescimento.

Com meus programas de formação de professores de empreendedorismo, procuro fazer a minha parte, mas todos, professores, gestores, alunos, empreendedores, governo, tem a mesma responsabilidade de tornar a educação empreendedora a célula-base da composição do ecossistema empreendedor.